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quarta-feira, 3 de março de 2010




FALANDO COM OS ANJOS (de Roberto Romanelli Maia)




Existe uma história de rara beleza e simplicidade que gostaria de contar. Um lenda ou quem sabe um sonho que toca os sentimentos e o interior de qualquer pessoa com um pouco de sensibilidade. Claro que não sei se ela é verdadeira... Mas não me importo com isso! Não precisa ser!
Basta, apenas, que ela consiga entrar dentro de mim e de vocês! Em nosso íntimo mais profundo! Sim, há muito tempo atrás, depois do mundo e da vida ser criado por Deus, num dia e numa tarde de céu azul e de calor ameno, aconteceu um encontro entre Deus e um de seus inúmeros anjos. Acredita?
Deus estava sentado, calado, sob a sombra de um pé de jabuticaba. E, lentamente, sem pecado, Deus erguia as suas mãos, colhendo uma ou outra fruta... Saboreava a sua criação negra e adocicada. Fechava os olhos e pensava... Permitindo-se um sorriso piedoso.Mantendo o seu olhar complacente. Foi então que, das nuvens, um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direção... Já ouviu a voz de um anjo? É como o sussurro da brisa e do vento matinal...
Ele tinha asas lindas, brancas e imaculadas. Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou: Senhor, visitei a sua criação como pediu. Fui a todos os cantos. Estive no sul, no norte, no leste e oeste. Vi e fiz parte de todas as coisas... Observei cada uma de suas crianças humanas. E por ter visto vim até o senhor... Para tentar entender. Por que?


Porque cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas uma asa? Se nós, anjos, temos duas... E podemos ir até o amor que o senhor representa sempre que desejarmos. E podemos voar para a liberdade sempre que quisermos. Mas o humano, com sua única asa, não pode voar. Sim, eles não podem voar com apenas uma asa... E Deus na brandura dos seus gestos, respondeu pacientemente ao anjo: Sim... eu sei disso... Sei que fiz os humanos com apenas uma asa... Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor, o anjo queria entender e perguntou:


Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando são necessárias duas asas para poder voar... Para poder ser livre?
Conhecedor que era de todas as respostas, Deus não teve pressa para falar...Comeu outra jabuticaba, escura e suave, e então respondeu... Eles podem voar, sim, meu querido anjo. E eu dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou vocês, meus arcanjos...
Sim, para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas... Mas, embora livre, sempre estará sozinho... Talvez da mesma maneira que Eu... Mas os humanos... Ah, os humanos com a sua única asa precisarão sempre dar as mãos para alguém para terem as suas duas asas.


E, de verdade, cada um deles tem um par de asas... Uma outra asa, em algum lugar do mundo, que completa o par. Assim eles aprenderão a respeitarem-se, pois ao quebrar a única asa de outra pessoa podem estar acabando com as suas próprias chances de voar. E de serem livres...
Assim meu querido anjo, eles aprenderão a amar, verdadeiramente, outra pessoa... Aprenderão que somente permitindo-se amar, eles poderão voar. Que tocando a mão de outra pessoa, em um abraço correto e afetuoso, eles poderão encontrar a asa que lhes falta...


E poderão finalmente voar. Pois somente através do amor irão chegar até onde Estou... Assim como você meu querido anjo. E eles nunca, nunca, estarão sozinhos quando forem voar. Logo após Deus silenciou em Seu sorriso e mais nada falou... Com isso o anjo compreendeu que nada mais precisava ser dito. E, assim sendo, ao final desse conto, espero que um dia todos nós, seres humanos, encontremos a nossa outra asa. Para finalmente podermos voar. Livremente. Amando para sermos amados.




* ROBERTO ROMANELLI MAIA é jornalista, poeta, cônsul de Poetas del Mundo e membro da União Hispanoamericana de Escritores.

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